sexta-feira, 25 de junho de 2010

Inventário




O quarto estava escuro quando eu acordei. Graças às novas cortinas que adquirimos. Mas o que estava logo atrás das cortinas era bem claro e grande. Muito sol. Muito calor. Um dia ótimo pra ir à praia - se eu ainda gostasse de ir à praia torrar ao sol. 

O teto do quarto agora está branco porque eu pintei o teto de branco. Tem algums reparos aqui e ali na pintura pra fazer, mas hoje não. Meus braços estão cansados. Ontem eles passaram a maior parte do dia pra cima. Pintando o teto.

As paredes da casa tem manchas brancas do reboco que eu usei pra tapar os buracos de prego. Pregos que seguravam o relógio e algumas molduras com imagens ou pinturas e algums espelhos.

O chão está sujo. Mas não é um sujo fácil de limpar. Antes, tinha carpete no chão. Eu tirei o carpete. Agora o chão é cimento e alguns respingos de tinta. Eu não gosto do chão, mas eu acho que dá pra pintar o chão. 

É uma reforma. Uma reforma demorada. Uma reforma na vida também. Acho que eu estou pronta pra fazer meu inventário. Abrir as minhas cortinas e deixar uma luz entrar, abrir as janelas pra mudar o ar, reorganizar alguns sentimentos, tampar alguns buracos, pôr pregos em lugares diferentes pra pendurar novas memórias e novas aspirações. Limpar os espelhos pra me ver mais claramente: os defeitos e as qualidades. Fazer o chão do caminho a minha frente mais agradável e bonito. 

Ai, a vida de pessoas. Queria eu viver só tecidos, máquinas de costura e muitas agulhas. Eles não falam, eu não decepciono, a gente não discute. Mas também, quando eu só tiver os meus próprios pensamentos pra ouvir.... não sei não...

2 comentários:

VERA PINHEIRO disse...

Arrasou geral! Lindo texto! Beijos!

Rita Helena disse...

Filha, muito profundo tudo que você falou. Senti, também, um pouco de melancolia. Estar distante, priva-nos de poder conversar pessoalmente. Dou a maior força para você fazer mudanças que te façam mais feliz. Não se cobre tanto. Casamento é muito bom, mas a cada dia a gente conhece um pouquinho um do outro. Saudades.