O que eu digo pra ele?
Não sei. Diz o que você sente. O que você quer mesmo.
Ué. Não gostou. Mas pelo menos você foi sincera.
Fala que você ouviu umas coisas que você não gostou. E que você não gosta daquela amiga entrona dele.
Mas como eu digo isso sem ele ficar bravo comigo?
Vai com calma, né? Você tem que falar! E de mais a mais, ele não pode ficar bravo com você!
Volta pra semana passada.
Quarta-feira.
Então, a minha amiga veio me dizer que a amiga dele disse que ele disse pra ela que ele quer dar um tempo.
...
O que você acha?
... Não sei. Não sei nem se eu acredito. Mas porque você está preocupada com isso?
Ele não me liga desde Domingo! Tem alguma coisa no ar! Eu sinto!
OK. E porque você não tem ligado?
Porque todo mundo tem me dito pra dar espaço pra ele!
Ele te disse isso?
Não, mas os amigos dele me disseram que ele precisa de um espaço. Que é pra eu deixar ele sentir a minha falta.
OK. É o que você quer fazer?
Não sei. O que eu devo fazer?
Não sei. Você é quem tem que decidir o que fazer.
Mas como é que eu digo isso pra ele?
Diz o que?
...
...
Quinta-feira.
Acho que vou vomitar. (chorando do outro lado da linha)
Por quê????
Ele não me liga!
Liga pra ele!
Ele pegou o carro na segunda-feira! Eu me sinto usada! Ele só estava comigo porque ele não tinha carro!
Foi isso que ele te disse?
Não. Mas eu tenho certeza que é isso!
OK. ... (levanto a sobrancelha esquerda)
Eu não consigo lidar com esta distância!
Liga pra ele.
Eu não posso. Os amigos dele dizem que eu devo dá-lo espaço.
E você já decidiu que quer dá-lo espaço?
Eu já estou dando espaço... Se é isso que ele quer....
Mas o que VOCÊ (cutuco ela no peito) quer?
Sexta-feira.
1pm
A gente precisa sair. Eu quero me manter ocupada.
OK. Eu não sei se vou sair hoje. Estou cansada. Eu quero chegar em casa, tomar uma cerveja e tirar uma soneca. Eu te ligo quando acordar.
Mas a gente tem que sair!
Eu vou ver como eu me sinto e depois te ligo.
Tá.
8pm
Oi. Acabei de chegar do trabalho. Eu estou muito cansada, mas prometo que vou tentar sair com você. Te ligo quando eu acordar.
Tá. Mas a gente vai sair, né?
Eu vou te ligar quando eu acordar pra te dizer se eu vou com vocês.
A minha prima não vai mais então você tem que ir comigo.
... (suspiro)
9pm
Oi. Eu consegui descansar. Tomei café. Pra onde você quer ir?
Todos estão cansados. Não precisamos sair não. Vamos ficar em casa. Curta a noite com o maridão.
Hum... Eu tô meio pronta já. E eu tomei café.
Eu tô cansada de tanto chorar o dia todo. Ou melhor... a semana toda.
Não. Você queria sair e eu fiz o que eu pude pra te acompanhar. Agora a gente vai sair.
Não. Eu não quero mais sair. Eu tô debaixo das cobertas.
Bom, então põe uma bota, pega seu cobertor e vamos pro cinema. Black Swan vai fazer sua cabeça esquecer de tudo isso! (eu, esperançosa...)
Não.... Eu..
Tá. Então eu vou praí e a gente toma vinho e chora as mágoas, ok? Já tô saindo. Tchau.
Mas..
(eu desligo na cara dela e não retorno suas 3 ligações.)
10pm
Nós estamos no bar. Eu, você e a fulana.
Por quê? Pra quem?
Pro Tony. Pra ele não achar que eu tô sentada esperando por ele.
Mas eu não falo com o Tony.
Mas eu vou escrever uma coisa no meu Livrocara e quando você comentar, não desmente.
... (faço uma básica cara de bunda e susto ao mesmo tempo.) OK (meio interrogação, meio reticências)
Confesso que depois desta insanidade toda - que eu só vejo com clareza hoje - eu era como a Melissa. Quando eu fui pra casa dela pra tomar vinho e a gente eu assisti um filme enquanto ela mandava mensagens pra alguém, eu vi que eu estava mesmo era olhando no espelho de alguns anos atrás. Aquele desespero, a ansiedade e a dependência das respostas e ações dos outros me mantinham magra e louca. Sim. Eu era magra porque eu ficava sem fome assim que alguma coisa não acontecia como eu queria. Não que eu soubesse mesmo o que eu queria, mas enfim... Muita coisa acontecia o tempo todo completamente diferente do que eu queria. E eu também tentava controlar as reações e sentimentos dos outros - obviamente eu não chamava aquilo de controlar. Nunca dava certo! Imagina... (risos) Eu era magra porque eu estava sempre alerta. Quando eu criava expectativas eu sempre suava frio até o fim dos dias. Eu era uma magra louca, uma magra doente. Doente em vários aspectos, mas atenhamo-nos ao corpo. Eu sempre gostei de ser aprendi a gostar de ser magra, mas agora eu quero ser uma magra normal. Sem loucura. A anemia nem me incomoda. Talvez nem anêmica eu seja mais. Mas claro, quando eu me acostumo e aceito que sou magra e inclusive sinto orgulho das minhas pernas de galinha eu engordo. Murphy, eu quero altas!
E a sinceridade. A honestidade... Volto pra elas quando eu tiver mais tempo - gente eu tenho dever de casa pra fazer!!!!
Mas o mais difícil de tudo é saber lidar com a paz. Quando se acorda pra ter raiva e ansiedade e estes são as únicas coisas que te fazem sair da cama, paz parece coisa de gente burra. Sabe aquele ditado que diz que a ignorância é uma benção ou algo do tipo? Parece que eu tô perdendo alguma coisa. Mas no fim do dia, quando eu deito na cama só eu e a minha consciência, não há nada como um bom e relaxado sono. Ah... o bom e relaxado sono....
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